Passe o ar pseudo intelectual que este título possa conferir a este pequeno pedaço de mim… nada como esta expressão para ilustrar o que nestes dias me paira por dentro. Numa tradução livre, volenti non fit injuria quererá dizer que não se pode injuriar aqueles que consentem a injúria. Do mesmo modo, não se podem arrastar pessoas que não querem ser levadas.
Pois, nestes últimos dias tenho ouvido (e tenho-ME ouvido) desculpabilizar acções de alguém com o comportamento dos outros. “Ele não queria mas foi incitado… foi levado a…”. Questiono-me se o facto de constantemente desresponsabilizarmos alguém não leva a que esse alguém se sinta sem responsabilidade pelas suas acções... pelos danos que causa aos outros e também a si… pelas nódoas negras familiares que doem, escurecem mas não saram porque não se dá tempo ao processo e se voltam a repisar…
Em última instância, a capacidade de decidir (o ideal do livre arbítrio) é algo só nosso. Temos capacidade de escolher entre vários caminhos possíveis. Por vezes, os que nos oferecem um bom pavimento, condições amenas de viagem e um meio de transporte célere não são aqueles que deveríamos escolher, quer porque se transformam em vias tempestuosas quer porque nunca nos ensinarão o que de facto seria importante aprender.
Se não os escolhermos, nunca saberemos. Se escolhermos alguns, voltamos famintos e envergonhados. Se optarmos por outros, ficaremos invariavelmente perdidos em circuitos labirínticos. E os gritos de ajuda? Quem os pode ouvir agora?
Influências sociais? Familiares? Do dito grupo de pares? De uma sociedade consumista no pior dos sentidos? Certamente que sim, a ninguém foi conferida esta imunidade…
Capacidade de escolher? Decisões pensadas e fundamentadas? Saber pensar por si? Inteligência para preferir um a outro caminho? Urge fomentar estas competências, esquecidas por aí… De facto, só se deixa conduzir quem não vislumbrar vários caminhos.
Ou então… tudo é tão complexo que me atropela e me deixa sem pinga de ar…
(pode ser mais isto que tentei dizer…)
… um relance do que poderia ter sido a nossa vida. Aquela que nos escapou ou que conscientemente afastámos de nós. Aquela sentimento antigo de pertença que se estilhaça de forma lenta e dolorosa à frente dos nossos olhos ou, pura e simplesmente, o sentimento de alívio por ter escapado a essa pertença.
A vida é, inevitavelmente, um rol de escolhas inadiáveis e pungentes. Outras vezes inadiáveis e galantes. Sem ponto de retorno, resta-nos olhar para trás e aprender com o que encerrámos no passado. Guardar no coração aqueles que tudo fizeram para lá permanecer, os sorrisos que colhemos, as palavras de apreço e digerir as palavras amargas, as acções injustas e as incoerências daqueles que nos dilaceraram o coração.
No final, esperar um equilíbrio entre todos os ingredientes …
Li este texto num qualquer placard em contexto de trabalho e achei-o genial. Descreve de uma forma tão compreensível e simples como se pode sentir a diferença. Fiquei a perceber mais uma milésima parte dos sentimentos de alguém com um filho diferente. Está muito bem escrito...
"Pedem-me muitas vezes que descreva como é a experiência de criar um filho com uma incapacidade. Para tentar ajudar as pessoas que não sabem o que essa experiência única significa, para poder imaginar o que se sente, deixem-me dizer-lhes algo parecido com o seguinte...
Quando vamos ter um bebé é como planear uma fabulosa viagem - a Itália. Compra-se logo uma boa quantidade de livros de viagem e fazem-se os planos maravilhosos: o Coliseu, o Miguel Ângelo, as gôndolas em Veneza, e até se pode aprender algumas frases úteis em italiano. É tudo muito excitante.
Depois de meses de expectativa, chega finalmente o dia. Fazem-se as malas e lá se vai para o aeroporto, horas mais tarde o avião aterra e a hospedeira chega perto e anuncia, Benvindos à Holanda.
Holanda? pergunta você, o que é isso de Holanda? o meu voo era para a Itália, eu deveria estar em Itália, toda a minha vida sonhei ir a Itália. Mas houve uma mudança de voo e o avião aterrou na Holanda e tem que ficar ali.
O mais importante é que eles não a levaram para um lugar horrível, desagradável e sujo, cheio de pestilência, fome e doenças. É só um lugar diferente. Vai precisar de aprender uma linguagem completamente nova, e conhecer um novo grupo de pessoas que nunca teria encontrado.
É só um lugar diferente, com um ritmo de vida mais lento do que Itália, menos buliçoso e aparatoso, mas depois de lá permanecer mais um bocado de tempo, logo que tenha passado a agitação, vai olhar em seu redor e começa a dar-se conta que a Holanda tem os moinhos de vento, tem as tulipas, e que a Holanda até tem os Rembrandts.
Mas todas as pessoas que conhece vão e vêm de Itália e todas se gabam das maravilhosas férias que lá passaram, e para o resto da sua vida vai pensar "Sim, era ali para onde deveria ter ido. Era isso que tinha planeado".
E essa dor nunca, nunca, nunca mais passará porque a perda desse sonho é uma perda muito significativa.
Mas... se passar a vida a lamentar-se com o facto de não ter ido a Itália, nunca mais terá o espírito livre para desfrutar as coisas especiais, as coisas maravilhosas da Holanda."
Genial.... não?
Nos últimos dias muito me tem custado ouvir certas pessoas… Crises existenciais? Episódios de comportamento anti-social? Nem tanto… Aparentemente as pessoas pensam que a idade per se pode trazer um género de autoridade moral – não concebida de forma necessariamente positiva!
Pois é, aparentemente há muitas coisas que nós jovens (massa amorfa e, obviamente, sem qualquer tipo de livre arbítrio) temos de fazer para gozar convenientemente a nossa juventude. Como gosto de alertar para tais convenções sociais, para mim desconhecidas até então, achei por bem enunciá-las aqui. Vejamos:
1º Temos que sair todos os sábados à noite sem excepção, independentemente da nossa vontade ou da existência de programas alternativos;
2º Não podemos ficar muito tempo com o nosso namorado pois tal pode ser sufocante e, consequentemente, prejudicar o nosso desenvolvimento;
2º Temos de ser estúpidos, isto é, beber e fumar só porque sim e porque isso é “jovem”…E lá está… se não o fizermos, pois …. Não estamos a viver bem;
4º Não podemos ter preocupações com a saúde antes dos 40 anos. O lema será qualquer coisa do género: primeiro destrói-te até não poderes mais e depois… chora sobre o leite derramado e corre a comprar chás para o colesterol, pra queimar as banhas e quem sabe até uma bela bicicleta de exercícios (que obviamente ganhará pó num qualquer canto da sala…);
5º Não convém demonstrar carinho por ninguém! Isso de ter sentimentos também não é jovem. Lamento mas pais, irmãos, amigos, namorado/a, a partir de hoje não vos poderei acarinhar nem mesmo demonstrar consideração pelos vossos sentimentos;
6º Temos de estar na moda ainda que isso possa significar que nos sintamos ridículos ou que nada tenha a ver connosco!
Conclusão bastante óbvia: não quero ser muito jovem. Quero ser só medianamente jovem, relativamente jovem, pronto …. Um pouco jovem! Mas não muito! Quero ficar enroscada num sábado à noite à lareira a comer castanhas e a ver um bom filme, quero estar com o meu namorado quanto tempo me apetecer, quero beber e fumar quando me apetecer e só quando tal acontecer, quero não fumar regularmente, quero preocupar-me comigo antes de ser mesmo necessário, quero mimar os meus amigos, a minha família, as pessoas de quem gosto e dar-lhes palavras de apreço, pequenas prendas, ficar com os miúdos quando for preciso, levar os primos putos a sair à noite, quero vestir aquelas calças tão demodé que até dá dó e ir passear a minha cadela. Também quero fazer tudo o resto…
Serei normal? Serei já muito velha?
Como diria alguém: WHATEVER! Farei, ainda assim, aquilo que gosto!
Detesto Domingos!...
Tempos houve em que os adorava e em que eles significavam um regresso às minhas doces e inocentes rotinas. Tenho saudades de fazer a mala, pensar na semana que se avizinhava, meter-me num qualquer transporte e viajar até à minha cidade. Tenho saudades de saber que me esperavam as melhores coisas… Companheiras e companheiros de desventuras, uma casa quente e agradável, dias de aulas, conversas ininteligíveis, noites passadas num velho divã, gelo partido em paredes…
Agora os Domingos antecedem uma qualquer semana de trabalho sem os meus amigos que me parecem de sempre… Domingo não é mais que um prelúdio para mais do mesmo. Uma semana semelhante a tantas outras, na mesma casa, com as mesmas pessoas…
Ao Domingo desaparece sempre aquela pessoa especial… iniciam-se as agonias, as saudades insuportáveis…Hum…. Viva a neura dominical!
Depois de um interregno por 1001 razões, volto a escrever qualquer coisa por aqui!
“Ò Coimbra do Mondego
E dos amores que eu lá tive
Quem te não viu, anda cego,
Quem te não amar, não vive”
Dá-se um primeiro passo. Entra-se num mundo fascinante e assustadoramente sedutor. Deixamo-nos embriagar por um misto de sensações, cores, vozes e pessoas. Primeiramente a medo, timidamente, depois deixando cair os receios e os anseios.
Entre conversas intrincadas ou terrivelmente simples, constroem-se afectos e vivências, começa a edificar-se um sentir místico, inexplicável.
Coimbra não passa, vai ficando. Coimbra não farta, apaixona cada vez mais. E como acontece em tudo o que nos fascina e vicia, não se dá conta que as horas, os dias e os anos se sucedem… Sucedem-se os momentos, as surpresas, as tristezas, as alegrias, a solidão entre as pessoas, a companhia na solidão. Chora-se num ombro, ri-se com algum olhar, fala-se de nada e de tudo, inebriamo-nos porque foi inevitável, corremos atrás de alguém, fecham-nos uma porta e abrem-nos outra. Morremos e renascemos.
Coimbra não pára. Não morre. Coimbra pode acontecer numa esplanada na Primavera, num beco da baixinha, na alta coimbrã, na sala de um núcleo de estudantes, entre a montanha de fotocópias e de marcadores coloridos, na parede cheia de fotografias de um cortejo, de um jantar, … E perdura. Naquela noite em que o cheiro de orvalho nos lembra aquela rua, no dia em que uma voz doce nos recorda alguém, no nascer do sol que presenciamos… Na sonoridade doce e melancólica de um fado de Coimbra que fala de um amor ausente, de saudades, de uma cidade que nos entra pela vida e nela deixa marca indelével.
Coimbra são pessoas, sítios, conversas, sorrisos, lágrimas, sensações, novas formas de ser e de estar, divergências, multidões, cores diferentes, cores iguais, medos novos, novas certezas e incertezas, guitarras que gemem e vozes que tentam dizer… São aprendizagens, dúvidas, mágoas, sons, artes e poesias, palavras soltas, fantasias…
Perdoem a nostalgia e a quase saudade de Coimbra. Em Coimbra os últimos passos doem, as pernas ficam pesadas e não obedecem, os olhos perdem o controlo e o mundo fica envolto numa cortina líquida. As caminhadas ficam mais curtas, os espaços e os caminhos aflitivamente familiares. Os anónimos tornam-se uma família atípica, ligada por laços invisíveis e inenarráveis. O “até sempre” faz adivinhar uma noção de temporalidade poucas vezes sentida. Os olhares substituem-se por vendas, os sons passam a recordações… Os meus pedaços ficam espalhados pelas ruas desta cidade, pelas pessoas, pelos papéis, …
Não é saudade do passado mas nostalgia do presente, porque Coimbra não passa, vai ficando….
. Egos...
. Coimbra
. Porque há pessoas que nun...